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virada de novembro pra dezembro eu já entro num fluxo mais lento. sei que estamos na virada pra fase de prêmios e Oscar e cinema, mas venho de uma safra de cinema em excesso pós Mostra e Mix Brasil, tanto que cheguei numa estafa que nem consegui escrever sobre tudo que vi, fiquei atrasado em várias resenhas… enfim, é uma fase que não quero consumir mais nada com o olhar de trabalho.
já tava virando a chavinha pra fase férias e aí o pessoal decidiu barbarizar e esse final de novembro virou uma bola de neve de lançamentos musicais; e o problema é que são lançamentos realmente bons. por isso vamos de abre curtinho hoje e vamos de foco maior nas novidades musicais:
lançamentos
a argentina Zoe Gotusso lançou esse mês “Detalles”, disco em que se debruça sobre o cancioneiro de Roberto Carlos - apenas com suas versões em espanhol. o disco tem um tempero indie, uma produção refinada e bela, lindo demais. ouça aqui. eu gosto como ela brinca com essas perspectivas femininas no disco, tipo “Camionero” virou “Camionera”, sendo cantada toda no feminino para sua amada; e logo na sequência entra “Amada Amante”, que ganhou releitura delicada, em clima de bailinho romântico. acho que um ponto interessante disso é que Zoe trabalhou nesse disco ao lado de sua namorada, María Wolff, que foi a produtora do disco e que a auxiliou nesse processo de modificar e brincar com o gênero de algumas canções. gosto muito também da versão de “Que será de ti”, versão do clássico “Como vai você” (Antonio Marcos, Mario Marcos), que já havia ganhado versões de Melina León e Thalía. para sua versão, Zoe chamou a Juliana Gattas, do icônico Miranda!, em um dueto linduxo!
fun fact: Zoe tinha viralizado na América Latina ano passado com sua versão em espanhol para “Pensando em você”, do Paulinho Moska e a versão dela é linda, linda!!!!!! ouça aqui. o Paulinho Moska gostou tanto que eles até gravaram uma versão juntinhos.
Mahmundi está de volta com “BEM VINDOS DE VOLTA”, disco que marca seu retorno ao mercado independente. esse novo momento fica marcado em um disco extremamente “mahmundiano”, no melhor sentido. “BEM VINDOS DE VOLTA” traz signos clássicos do universo musical da artista carioca, desde suas produções recheadas de camadas até seus universos temáticos usuais; de todo modo, o interessante é como tudo aparece de forma mais madura e mais livre - aqui é num sentido poético mesmo, Mahmundi parece mais solta e confortável de mergulhar em temas e universos que nem sempre ela navegou; há uma beleza sensual e um tesão nessas canções que é bonito de ver. sonoramente, é delicioso como ela se aventura na pista de dança e abre diálogos mais diretos com a música eletrônica, como nos excelentes momentos drum’n’bass do disco. super recomendo, ouçam aqui.
a mamãe Julieta Venegas está de volta com o single “Tiempos Dorados”. pop latino clássico ao melhor estilo Venegas, uma delicinha. ouça aqui.
depois de anos de espera, enfim Zeca Veloso lança seu disco de estreia. “Boas Novas” é uma experiência de suntuosa delicadeza, em que o tempo funcionou como processo de maturação técnica e pessoal. ouçam aqui. eu lembro que vi dois shows dele no finalzinho de 2023 e lá ele já apresentava muitas das canções que compõem esse disco, eu ansiava por reouvir muitas delas, mas há surpresas especiais no disco e momentos únicos - tipo a incrível “Máquina do Rio”, sabe?, o que é isso? enfim, encantado. para acompanhar o lançamento do disco veio um clipe para “Boas Novas“ feito todo com imagens caseiras e familiares dos Veloso nos anos 90.
a banda manauara D’Água Negra lançou recentemente seu primeiro disco “Sinal Vermelho Vidro Preto”, produzido por Daniel Brita. o disco bebe na fonte do jazz e soul, mas faz isso por um caminho recheado de texturas eletrônicas e de um calor brasileiro muito único, que traz um tempero pop e sedutor ao disco. segundo a banda, o trabalho é guiado pela dualidade entre o desejo e a falta, entre a raiva e o gozo. o trabalho é um lançamento dobra discos, com distribuição pela Altafonte Brasil. vale muito o play.
o inglês Tsatsamis lançou o single “Secret Boyfriend”, bem synthpopzão. ouça aqui. ano passado o artista também lançou o delicioso ep “Our Shame”.
Tuxe é um DJ com uma pesquisa única: nascido em Salvador (BA) e criado entre Feira de Santana (BA) e Aracaju (SE), Tuxe vive há seis anos em São Paulo e carrega uma escuta moldada pelo movimento. essas andanças e sons se mesclam em seu EP de estreia “Cem Por Cento”. o trabalho produzido por Tuxe apresenta sua estética e seu olhar sobre a música eletrônica, mesclando sua experiência como DJ, produtor musical e uma das mentes por trás da gravadora independente Tandera Records. concebido entre São Paulo, uma turnê pelo Nordeste e sua segunda passagem pela Europa, “Cem Por Cento” é, segundo o artista, uma “investigação da tensão entre calor humano e a máquina, memória e o que coexiste”. ouça aqui.
Davi Sabbag (Banda Uó) lançou seu novo disco “ÅNJO MAÜ”, trabalho produzido por DJ ÅNJO e outros parceiros - confesso que fiquei tipo uma senhora pensando “nossa, esse ÅNJO deve ser alguém importante pra ele, pois o título tem a mesma grafia do nome do produtor, até que eu descobri que ele é o dj e produtor, rs, DJ ÅNJO é tipo seu alter ego. enfim, o álbum mergulha de forma mais funda na pista de dança, indo em caminho distante do R&B alternativo de seu disco anterior “Ritual”, de 2019, e mais proximo do que ele havia explorado na mixtape “[(entre) mixtape]”, de 2023. “ÅNJO MAÜ” tem tanto participações diversas de nomes como Jaloo, WES, Potyguara Bardo quanto a presença de produtores variados, como Pedrowl, FUSO!, Malka, EPX e RKills - este último assina “Vale då Sombra”, uma das que mais curti logo de cara. ouça aqui.
a produtora inglesa Maya Jane Coles voltou com o EP “Night Jams Vol.1”, produção refinada, no universo clássico da artista, entre o house e o techno, navegando por tags como deep house, tech house e esses submundos. enfim, ep classudo. ouça aqui.
fervos & bafos
até o dia 3/12 a Imovision realiza a Mostra Jafar Panahi, com a exibição de 4 filmes icônicos da filmografia do cineasta iraniano, incluindo sua estreia “O Balão Branco”, de 1995. a mostra conta com sessões em SP, RJ, BH, Niterói e Ribeirão Preto. aqui é possível conferir os locais e horários de exibição. a mostra marca a chegada do novo filme de Panahi aos cinemas brasileiros: “Foi Apenas Um Acidente” estreia dia 04 de dezembro! já escrevi sobre o filme lá no Scream & Yell: “Foi Apenas um Acidente” é um libelo político sobre liberdade. leia aqui.
neste sabado (29), rola em SP a festa Jake, a prima mais nova da Kevin. com nomes como Rianriot, Millian Dolla e Rafa Balera no line. a festa rola na Zig Studio. ingressos aqui.
videolocadora
nessa sessão indico filmes de qualquer época que eu acho interessante e que valem o play - e estamos no mood jingle bells aqui, pois não sou fã de natal, mas sou fã de filmes de natal!
“A Felicidade Não Se Compra”, Frank Capra
“It’s a Wonderful Life” é meio que um ponto de referência para a maioria dos filmes de natal e sempre aparecia sendo citado em diferentes filmes, séries e livros; confesso que durante anos o título acabou não me chamando atenção e ficava sempre pra depois. em algum final de ano o filme estava passando no Telecine Cult e decidi embarcar nessa jornada e me apaixonei. o filme abre em uma véspera de natal, com George Bailey prestes a cometer suicídio, ato que é interrompido pela ação de seu anjo da guarda Clarence, que o faz repensar como a vida de sua família e de sua comunidade seria diferente caso ele não existisse. Bailey é magistralmente interpretado por James Stewart, um dos mais importantes atores da Hollywood clássica e sua atuação é uma das espinhas dorsais do filme. “A felicidade não se compra” poderia virar um dramalhão piegas se pegarmos o seu ponto de partida, mas o fato é que o filme de Frank Capra é extremamente bem construído, criando nuances e complexidades para seus personagens. em um mundo de cinismo e rancor, George Bailey é a lembrança real de que devemos ser fiéis ao que acreditamos para esse mundo, por mais naïve que isso possa parecer. esse é um desses filmes que funcionam bem demais nessa época de reflexões e elucubrações de final do ano, é um tipo de filme para nos dar um quentinho no coração e nos lembrar da magia que há em crer no amor, na esperança e no afeto.
as cantoras lá de casa
sessão onde indico um disco de alguma cantora dessas de outros tempos que vivem no repeat aqui em casa
Minnie Riperton, “Adventures in Paradise”
esse é um disco que completa 50 anos em 2025 e ele está na lista de discos de 1975 que fizemos lá no podcast VFSM dessa semana, mas achei que ele valia ser recomendado aqui. Minnie Riperton e pra mim uma das vozes mais absurdas que já existiram neste mundo e “Adventures in Paradise” saiu logo depois de “Perfect Angel”, que é o seu maior sucesso comercial e, pra mim, segue até hoje como um dos discos mais importantes dos anos 1970. nesse cenário, “Adventures in Paradise” acabou meio deixado de lado, mas esse é um disco refinadíssimo, cheio de delícias a serem redescobertas. começamos pela capa icônica e que quase custou a vida de Minnie, pois o leão obviamente era real - os anos 70! - e ele atacou a diva durante a sessão de fotos. extremamente bem produzido, o disco tem os seus momentos sensuais e únicos, como “Inside My Love”, que é 10/10, mas também passa por outros momentos excelentes como “Feelin’ That Your Feelin’s Right” ou a própria música título. de todo modo, pra mim “Baby, this love I have” e um completo desbunde: a produção, as camadas de som, a voz dela, transcendental. e o curioso é que durante o processo de lançamento desse disco foi a fase que Minnie descobriu o seu câncer de mama - ela viria a falar publicamente sobre isso em 1976 e morreria precocemente em 1979. enfim, acho seu legado musical algo absurdo e que sempre vale ser revisitado e redescoberto.
reclames
esta semana no podcast VFSM nós pegamos um avião rumo a Copenhague, na Dinamarca, para conversar sobre a nova onda do pop nórdico e o som de artistas como Smerz, Erika de Casier, Astrid Sonne e ML Buch. ouça aqui.
esta semana no Por Trás Do Disco, recebi a cantora e compositora Dora Morelenbaum para conversar sobre “Pique” (2024), estreia em carreira solo da artista carioca. ouça aqui.
até a próxima,
Renan Guerra










tu foi citado no xadrez verbal dessa semana hahha
kkkkkkk Davi Sabbag nos trollando com o título do álbum.