tava vendo um ao vivo do Djavan de “Vive” e aí ele falou que era uma música romântica e eu fiquei pensando como nunca me foquei inteiramente na parte romântica, tem muito amor romântico lá, “Tanto que eu sonhei / Nos amar a pleno vapor”, mas o que sempre me pegou foi:
“Desencana, meu amor
Tudo seu é muita dor
Vive
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Livre”
eu conheci essa música pela versão da Bethânia, aqui, e amei que a original dele tem rodado pelo tiktok e tal. desde que conheci essa música sempre me bateu muito essa coisa do “deixa o tempo resolver”. o tempo, “um senhor tão bonito”, como diz Caetano.
aprendi com o próprio tempo a respeitar esses movimentos e entender que as coisas se desenrolam. não necessariamente se resolvem, mas elas mudam, transitam, fluem. e a gente aprende, cresce, chora e muda. mudei demais e aprendi um bocado. o futuro pra mim era um mistério sufocante. meus movimentos, meus amigos, minha vivência com o HIV, tudo me fez mudar o ritmo.
e aí o “deixa o tempo resolver / o que tem que acontecer / livre” ficou mais forte. o medo segue aqui, mas agora não sufoca. dá frio na barriga e a gente vai. pode não funcionar o plano A, nem o B, às vezes nem o C, mas surgem outros, a gente inventa caminhos, cria outros futuros.
(Djavan muito bafo, né? cada frase pode se desdobrar em mil elucubrações e papos… anjo)
lançamentos
faz tempo que a gente tem repetido que o funk br é uma das músicas mais inventivas e experimentais da atualidade e um dos nomes que sempre reforça isso é d.silvestre, dj e produtor natural de Pimenta Bueno, em Rondônia, e atualmente radicado em SP. “O que as mulheres querem”, seu novo disco, tem menos de 20 minutos, mas não se engane: em 19 minutos e 9 segundos ele cria um dos discos mais surpreendentes do ano. kicks, graves, distorções e beats improváveis se misturam em um disco barulhento, complexo e, ao mesmo tempo, extremamente divertido. ouça com o volume alto!
toca uma pras gays! Zaina Woz divulgou recentemente “M.S.F.”, faixa que nasceu de uma fase obsessiva da artista com a série de TV “Sex and the City”. a canção tem clima pop pegajoso, com refrão quase mântrico e marca o último single antes da estreia do disco “Zaina Woz - {Vol. 01}”, que sai em agosto. o single conta com produção musical de Zopelar - que não para de trabalhar, como eu tinha falado na última edição da news, rs. ouça aqui.
Fever Ray anunciou um álbum ao vivo para o dia 25 d ejulho, o disco chamado “The Year of the Radical Romantics” foi gravado durante a turnê “There’s No Place I’d Rather Be”, derivada do disco “Radical Romantics”, o álbum mais recente da mamãe Karin Dreijer, lançado em 2023 album. para acompanhar essa notícia, o projeto lançou a faixa “Now’s the Only Time I Know (Therapy Session)”, que vem acompanhada de um clipe dirigido por Martin Falck. assista aqui. esse novo clipe dialoga com o vídeo de “I'm Not Done' ( Therapy Session)”, que ela havia lançado recentemente, e que revisita uma música lá de seu disco de estreia como Fever Ray. veja aqui.
o Deekapz abre os caminhos para o primeiro álbum do duo, deixando bem clara sua inspiração no clima nostálgico das rádios noturnas. o primeiro lançamento é um single dupla com as faixas "Dance", com participação das divas do Fat Family, e "Repare", em colaboração com a banda Tuyo. pela vinheta apresentada aqui podemos esperar nomes como Urias, Mauí, DJ Marky e Criolo no disco. expectativas altíssimas! o disco ainda não tem nome nem data de lançamento, mas vamos seguindo com os singles no repeat.
os divos do Supervão lançaram um clipe lindinho para "Love e Vício em Sunshine", faixa de abertura do excelente álbum “Amores e Vícios da Geração Nostalgia (AVGN)”. o clipe foi dirigido por Maurício Kessler e você pode assistir aqui.
Duda Beat se uniu ao TZ da Coronel no excelente single “Nossa Chance”. ouça aqui.
Bia Soull é um dos nomes mais interessantes da atualidade (suas participações ao lado de nomes como Mu540, CyberKills e o próprio d.silvestre indicado ali acima mostram bem isso). agora ela lançou o single “Pornstar”, uma espécie de piseiro +18, curtinho e divertido. ouça aqui.
a peruana Lorena Blume chamou a diva Lido Pimienta para o single “El Juego” e ficou uma delicinha.
fervos & bafos
neste sábado tem a DJ Flavia Durante no vão do MASP, das 16h às 20h. como parte da programação de férias do MASP, a Flá irá fazer um set em homenagem ao Dia do Rock, com um foco nos sons latinoamericanos, com muito rock brasileiro e hispânico. entrada livre e gratuita!
também neste sábado, dia 12, tem um evento de celebração de 40 anos de lançamento do livro “Brasil: Nunca Mais”, obra fundamental de documentação da Ditadura Militar, produzida por Paulo Evaristo Arns. o evento rola no Memorial da Resistência, em SP, e contará com as presenças de Paulo Vannuchi, Frei Betto e Ricardo Kotscho, nomes importantes que participaram do projeto - os três participarão de uma mesa de debate marcada para às 15h, falando sobre a história e importância do “Brasil: Nunca Mais”. mais infos aqui.
neste sábado tem festa KEVIN e com line bafo: Mirands, Samü, Rafa Maia e mais, além das performances bafo de sempre. a festa rola na Rua Barra Funda, 969 e você pode garantir seu ingresso aqui.
neste domingo (13/07) tem Bazar da 7ª Arte no Reag Belas Artes, na Consolação. das 11h às 18h haverá feira de blu-rays, dvds, vhs e outras possibilidades de mídia física. evento gratuito.
terça, dia 15/07, às 19h, o bar Soberano faz um rolê para as pesadas: uma exibição de cópia restaurada do clássico underground “Begotten” (E. Elias Merhige, 1989). a sonorização será ao vivo e assinada por Pink Opake, RATPAJAMA e Vitor Marsula. o Soberano fica na icônica Rua do Triunfo, 155. ingressos aqui.
a cantora, compositora e produtora musical Bebé apresenta o show de seu segundo álbum, SALVE-SE!, no Sesc Consolação, com entrada gratuita. a apresentação acontece no domingo, 20 de julho, às 18h, no Teatro Anchieta. mais infos aqui.
o PopPorn Festival está de volta a SP e rola de 14 a 17 de agosto, com um olhar amplo acerca da pornografia, da cultura fetichista e do erotismo, com outras formas de pensar a sexualidade, a saúde e os produtores de conteúdo adulto. além do festival, dia 16 de agosto tem PopPorn Party. fique por dentro de tudo acompanhando a página deles no Instagram.
videolocadora
nessa sessão indico filmes de qualquer época que eu acho interessante e que valem o play
“Tudo Bem”, Arnaldo Jabor
Jabor vinha de duas adaptaçōes do universo de Nelson Rodrigues com “Toda Nudez Será Castigada” (1973) e “O Casamento” (1975), e é interessante como há em “Tudo Bem” (1978) uma conexão direta com o estilo rodrigueano, porém aqui a tragédia é trocada pelo deboche farsesco. uma reforma em um apartamento de uma família de classe média dos anos 70: uma mãe (Fernanda Montenegro) que acredita estar sendo traída, um pai (Paulo Gracindo) que conversa com fantasmas e lida com o fato de estar ficando brocha, um casal de filhos (Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães) que está imerso em suas próprias realidades banais, ela quer um bom casamento e ele crescer na firma. para completar, uma empregada religiosa (Maria Sílvia) trabalha ao lado de uma empregada (Zezé Motta) que faz dupla jornada como garota de programa à noite. adicione aí uma gama de pedreiros e biscateiros que andam por dentro do apartamento (Stênio Garcia, Anselmo Vasconcelos e José Dumont encabeçam essa trupe). e assim temos um dos filmes mais absurdos e divertidos de Jabor: as atuações são geniais, com Fernanda Montenegro em absoluto estado de graça; há momentos incríveis como Zezé Motta cantando “Como nossos pais” (Belchior) ou a festa de noivado final em clima à la “ O Discreto Charme da Burguesia”, de Buñuel. enfim, filmaço que vale ser revisitado.
as cantoras lá de casa
sessão onde indico um disco de alguma cantora dessas de outros tempos que vivem no repeat aqui em casa
Zezé Motta, “Zezé Motta (1978)”
falei de Zezé cantando no filme “Tudo Bem” e achei que fazia sentido seguir falando da diva, que aliás fez 81 anos mês passado. Zezé tem muitos discos que eu amo, acho a carreira musical dela muito consistente e bem subvalorizada, de todo modo, pra apresentar seu trabalho tive que ser óbvio e ir com esse disco aqui, que aliás, passou a ser conhecido como “Prazer, Zezé” por causa da faixa de abertura “Muito Prazer”, assinada por Rita Lee e Roberto Carvalho, e que traz os versos “Muito prazer, eu sou Zezé / Mas você pode me chamar como quiser / Eu tenho fama de ser maluquete / Ninguém me engana nem joga confete” - a interpretação dela é uma delícia e abre o disco com um sabor especial. eu gosto demais da interpretação dela para “Trocando Em Miúdos” (Chico Buarque/Francis Hime) e “Pecado Original” (Caetano Veloso). e destaco ainda o absurdo que é “Dengue”, canção linda e delicada assinada por Leci Brandão, aqui com produção com percussão envolvente - vale demais o play nessa performance da música em 1981. de todo modo, pra mim, os momentos mais belos do disco se encontram na amizade Zezé e Luiz Melodia: a regravação do clássico “Magrelinha” é uma delícia total e a canção “Dores de Amores” ganha um dueto chiquérrimo dos dois artistas. lindeza total!
dica extra aleatória: em 1983, Zezé Motta gravou um clipe para o Fantástico cantando “Três Travestis”, de Caetano Veloso. a faixa era o lado B de um compacto lançado por ela em 1982. enfim, vale muito o play!
reclames
às vezes os pequenos tamanhos nos trazem grandes alegrias, não é? por isso essa semana no Podcast VFSM nós separamos canções curtinhas e que dão conta do recado. ouça aqui.
no clássicos VFSM dessa semana eu e o menino Cleber aproveitamos a volta do Yo La Tengo para tocar no Balaclava Fest e conversamos sobre "And Then Nothing Turned Itself Inside-Out" (2000), uma das grandes obras da banda norte-americana. ouça aqui.
até a próxima,
Renan Guerra