esses tempos eu tive o meu momento “amiga, a África”, pois ao saber das notícias do conflito entre Israel e Irã e dos bombardeios bilaterais, a primeira coisa que pensei foi “ai meu deus, o Jafar Panahi! os meus cineastas”. alguns dias depois, Jafar Panahi se manifestou e fez aquilo que eu esperava dele: falou mal de Israel, falou mal do Irã e - mesmo teoricamente proibido de sair do Irã pelo regime - o diretor afirmou estar em algum outro lugar que não o Irã. é isso, meu menino fugiu de lá.
“It Was Just an Accident”, novo filme de Panahi, premiado com a Palma de Ouro em Cannes, deve chegar aos cinemas ainda esse ano, segundo a Neon a previsão de lançamento internacional é no dia 15 de outubro. Jafar Panahi é um dos meus diretores preferidos da atualidade, sua forma de enxergar o cinema e o mundo, de mesclar ficção e realidade como forma de pensar o nosso tempo é algo único e talvez por isso eu fui tão mesquinho em só pensar nele quando soube das notícias de uma possível guerra mundial.
o cinema iraniano é uma paixão muito grande pra mim. Panahi, Abbas Kiarostami, Mohsen Makhmalbaf, Bahman Ghobadi, Samira Makhmalbaf, Asghar Farhadi, entre outros. todos esses diretores me transportam para histórias diversas e únicas e inesperadas. eles me apresentam um Irã múltiplo, complexo e cheio de vida.
desde os anos 90, com o sucesso internacional desses diretores, o cinema iraniano passou a ser a epítome de um “cinema conceitual, cabeçudo, chato”, falácia repetida inúmeras vezes por muitas pessoas que nunca nem viram um filme iraniano. é uma pena esse preconceito, pois acaba perpetuando um distanciamento com essas obras e reforça um exotismo bobo.
o cinema, para mim, é uma possibilidade de conexão com o outro e com o mundo, e o cinema iraniano sempre foi essa janela para um universo diferente e único, que me aproxima daqueles que repetidamente deveriam ser vistos como distantes, exóticos e inacessíveis. num tempo de violências e desumanização, mais do que nunca precisamos da arte como ponte.
uma dica do mundinho cinema iraniano: um dos meus filmes favoritos desse ano é “Meu Bolo Favorito”, de Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha. o filme é uma lindeza e tem uma história doida nos bastidores com perseguição aos diretores dentro do Irã e tal. escrevi sobre o filme lá no Scream & Yell. o filme está disponível no Reserva Imovision - que aliás tem um catálogo lindo de diretores iranianos, incluindo vários filmes do Panahi, como o excelente “O Balão Branco”, indicado por aqui no início do ano.
lançamentos
o duo divo CyberKills está lançando sua mixtape “Dedo no Cue”, um trabalho que cria pontes entre diferentes vertentes da música eletrônica brasileira e latino-americana, indo do techno ao funk. "A mixtape é uma viagem que passeia por diferentes gêneros da música eletrônica brasileira, sobretudo o funk. Durante muito tempo viajamos e trocamos com diversas pessoas e culturas. ‘Dedo no Cue’ é resultado dessa troca: escolhemos produtores de todas as regiões do Brasil para somarem conosco. O resultado é um grande DJ-Set que aponta para novas direções onde as pistas do Brasil e do mundo estão seguindo", explica a dupla. e aí para isso tem uma lista imensa de parcerias e collabs: Katy da Voz e as abusadas, Jup do Bairro, Kalef Castro, Bia Soul, Brunoso, CRRDR e muito mais. enfim, achei um bafo baforoso. tem muito barulho, putaria e ferveção. disco pra ouvir em volume alto! ouça aqui.
Alberto Continentino, celebrado como baixista de artistas como Caetano Veloso, Ana Frango Elétrico e Adriana Calcanhotto, lançou ‘Cabeça a mil e o corpo lento’, seu terceiro disco. com sonoridade pop e inventiva, o disco reúne entre parceiros e convidados um time que inclui Domenico Lancellotti, Ana Frango Elétrico, Kassin, Silvia Machete, Nina Becker, Negro Leo, Dora Morelenbaum, entre outros. ouça aqui.
dona Lorde tem movimentado o pop e dominou os temas das últimas semanas, por isso vale mencionar aqui o lançamento de “Virgin”, seu quarto álbum. por mais que Lorde seja um marcador geracional fundamental - eu assisti o clipe de “Royals” junto com amigos no corredor da faculdade no dia que ele foi lançado, sabe? -, eu nunca fui 100% na aula, por isso ainda não ouvi o disco, mas deixo aqui o registro. ouça aqui. e recomendo a leitura da entrevista que minha (falsa) prima Dora Guerra fez com a diva lá no G1: “Lorde lança seu álbum mais íntimo e quase nos convence de que a conhecemos de verdade”
vi a jornalista Deslange Paiva compartilhando esse disco do projeto helen island e achei tudo - não é um lançamento recentíssimo, mas vale a citação aqui. projeto do produtor parisiense Léopold Collin, o disco conta com 16 faixas curtinhas em que ele mistura muita coisa: lo-fi trip-hop dream pop, vai pra vários lados, é meio que como uma espécie de pequenas paisagens sonoras, achei bem bonito e não tinha visto ninguém falando desse. ouça aqui.
fervos & bafos
ainda no mood Pride, a MUBI Brasil fará neste domingo (29/06) uma sessão dupla de clássicos do New Queer Cinema dos anos 1990. o evento rola na Cinemateca Brasileira com os clássicos "The Living End" (Gregg Araki, 1992) e "The Watermelon Woman” (Cheryl Dunye, 1996, filme indicado aqui lá no piloto dessa news). além disso terá djs sets e apresentações de drags como Márcia Pantera e Alexia Twister. mais infos aqui.
falando em Cinemateca, em julho rola a mostra "Mestres do Cinema Paulista – Parte 1: Ozualdo Candeias e Jean Garrett". a mostra exibirá filmes raros do Acervo Heco remasterizados em 4K, entre os dias 03 e 06 de julho de 2025, na Cinemateca Brasileira.o projeto resgata obras fundamentais do cinema brasileiro: serão exibidos dois curtas-metragens documentais dirigidos por Ozualdo Candeias - "Tambaú' (1955) e "Polícia Feminina" (1960) - e três longas-metragens de Jean Garrett - "Excitação" (1977), "Noite em Chamas" (1978) e "Mulher, Mulher" (1979). uma oportunidade única para descobrir o cinema produzido na Boca do Lixo, em São Paulo. fiquem de olho aqui.
pra anotar na agenda: dias 5 e 6 de julho tem CATTO apresentando seu novo disco no Sesc Pompeia. ingressos aqui.
"Iracema - Uma Transa Amazônica" (1974) ganha trailer de sua versão restaurada em 4K. censurado pela ditadura militar na década de 1970, o clássico dos diretores Jorge Bodanzky e Orlando Senna volta às telonas em em 24 de julho. veja aqui.
o Coala Festival confirmou show do Terno Rei em sua edição de 2025. a banda paulistana se apresenta no sábado, segundo dia do evento, que acontece de 5 a 7 de setembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo.o line-up do Coala Festival já conta com nomes como Liniker, Marina Sena, Cidade Negra, Silva, Black Alien, Zé Ibarra, BK’, Dora Morelenbaum, Caetano Veloso e mais! ingressos estão à venda aqui.
as cantoras lá de casa
sessão onde indico um disco de alguma cantora dessas de outros tempos que vivem no repeat aqui em casa
Tetê Espíndola, “Piraretã”
Tetê Espíndola tem uma discografia riquíssima e que vale ser redescoberta. para além do clássico eterno “Pássaros na Garganta” (1982), que é essencial, eu ainda acho que seu disco de estreia solo, o “Piraretã” (1980) ainda é um dos mais interessantes cartões de visita de sua obra. aqui já temos um deslumbre de sua voz única, de seu repertório complexo e extremamente brasileiro e de sua unicidade na hora de pensar as narrativas sonoras de cada disco. a abertura com a faixa título “Piraretã” seguida de “Cunhatai Porã” é um desbunde completo; sua versão de “Refazenda”, do Gilberto Gil, é um assombro; e sua gravação de “Tamarana”, ao lado de Arrigo Barnabé, é de deixar a gente zonzo. há ainda a maravilha que é o clássico “Cio da Terra” (Chico Buarque e Milton Nascimento) em versão delicada e poderosa. destaco também a deliciosa “Vida Cigana” (Geraldo Espindola), que depois viraria clássico popular na versão do Raça Negra. enfim, discão que apresenta de forma única a sonoridade de Tetê.
extra: recomendo esse encontro ao vivo de Tetê com ninguém mais ninguém menos que Clementina de Jesus. veja aqui.
extra 2: em 2019 conversei com a Tetê lá no Monkeybuzz sobre toda a sua discografia até aquele momento. leia aqui.
reclames
fiz uma nova collab com a Fresh People falando sobre o New Queer Cinema dos anos 90 - incluindo aí as lindezas dirigidas pelo papai Gregg Araki. confiram aqui.
essa semana eu faltei no podcast VFSM, mas os divos Cleber Facchi, Isadora Almeida e Nik Silva se debruçaram sobre o legado de Brian Wilson. ouça aqui.
17º In-Edit Brasil: “A Última Banda de Rock”, de Lírio Ferreira, navega pelos altos e baixos da Cachorro Grande. resenha completa no Scream & Yell.
17º In-Edit Brasil: “Veraneio: Uma Antologia Negra” revisita o legado de Seu Osvaldo Pereira, o primeiro DJ do Brasil. resenha completa no Scream & Yell.
17º In-Edit Brasil: documentário “Leci”, de Anderson Lima, entrecruza política e música ao revisitar a história de Leci Brandão. resenha completa no Scream & Yell.
até a próxima,
Renan Guerra