eu dou risada muito fácil, porém também choro muito. quase todo dia choro por algo - seja de alegria, de tristeza ou de encantamento. algumas pessoas acham esquisito isso, mas eu amo ser assim. quero continuar me emocionando com a vida e me entregando a essas sensações. meu medo é que o mundo me torne cínico e/ou amargurado e que me faça perder essa minha sensibilidade pelo outro.
já teve gente que falou “nossa você quase sempre escreve bem de filmes/discos/livros” e eu acho isso bafo. geralmente eu ignoro coisas que não gostei, deixo pra lá. como escrevo geralmente sem ganhar grana, prefiro gastar meu tempo celebrando o que amo, o que me encanta, o que me emociona. e cada vez mais evito essa ação blasé de tentar ser técnico e meticuloso sobre tudo. tem obras de arte que eu enxergo claramente suas falhas e problemas e, mesmo assim, elas continuam me emocionando e eu não vou negar elas por isso.
é preciso a gente saber balançar a análise da razão com a emoção. muitas coisas nos emocionam, nos divertem e nos movimentam sem precisarem ser obras-primas. se eu for assistir todo filme esperando um novo Bergman ou se vou ler qualquer coisa esperando uma Hilda Hilst, o erro será muito mais meu e eu seguirei numa eterna frustração.

por isso eu vou continuar assistindo, me emocionando e celebrando coisas imperfeitas e falhas, mas que apesar de tudo me conectam com a minha humanidade. se eu perder a capacidade de chorar, de rir e de celebrar histórias que não são minhas aí tem algo errado. eu vivo por essas narrativas que me encantam e me movimentam.
são essas histórias que me levaram ao jornalismo, essas histórias que me movimentam enquanto crítico de arte, essas histórias que me interessam enquanto entrevistador. a arte só me toca pelo meu interesse no outro e se eu perder isso, ferrou. essas histórias me interessam por aquilo que tem de mim, pela identificação direta, mas também, por aquilo que jamais serei, pelas experiências do outro que só vivo a partir do texto, da imagem, do som.
a arte é a minha conexão com o mundo e não me percebo sem ela.
______________
o abre hoje bem filosofia de boteco, mas é isso, que já está por aqui há mais tempo sabe que essa news é bem pessoal e funciona da mesma forma que eu funciono com meus amigos. eu falando e falando e trazendo indicações que gosto, por isso me permito falar em um tom mais de conversa mesmo. e seguiremos mais um pouquinho assim
______________
seguindo na pensata de que gosto de escrever sobre o que gosto
pensar arte é exaustivo em alguns momentos. eu quero ouvir/ver/ler o que puder, mas não consigo. trabalho a semana todo, ocupo meus dias úteis com trabalho, transporte público e a tentativa de cuidar dos afazeres domésticos. tento ouvir o máximo do que me mandam, mas nem sempre tenho ânimo.
não acho justo ouvir o trabalho dos outros com desinteresse, com frivolidade. com isso, coisas podem se perder. mas ainda acho mais sincero que eu não tenha engajado em algo por causa de minha impossibilidade de ação do que se eu fingisse qualidades de trabalhos que ouvi sem força.
o silêncio pode soar mais justo do que a falsidade de fingir interesse por tudo. é muita coisa, é muita música, muito vídeo, muito texto, não há tempo. e olha que um eu já quase sucumbi ao erro de querer consumir tudo. não dá. é humanamente impossível.
sigo aqui em passos de formiguinha, escrevendo & falando do que dá, tentando impulsionar o que acredito e movimentando aquilo que ainda acho certo.
mas vale o adendo: em muitos momentos também opto pelo silêncio perante coisas que detestei. já teve músico que questionou que eu não falei/escrevi/engajei em seu trabalho e, olha, eles deveriam agradecer isso, pois às vezes eu eu quero falar mal de algo eu posso ser um pouco intenso demais, então às vezes é melhor ficar quietinho.
lançamentos
saiu esta semana "NOVO MUNDO", novo disco de Arnaldo Antunes, via Selo RISCO. produzido por Pupillo e gravado por ele (bateria, percussões e programações de ritmo), Kiko Dinucci (guitarras, violões e efeitos eletrônicos), Vitor Araújo (teclados e piano) e Betão Aguiar (baixo), o disco tá muito foda, apresentando um Arnaldo de som mais pesado, com um olhar muito afiado e atento ao nosso tempo. além disso, o disco tem feats chiquérrimos de David Byrne, Marisa Monte, Ana Frango Elétrico e Vandal. ouça aqui.
as mais trabalhadeiras: Katy da Voz e as abusadas lançaram mais um single, agora acompanhadas de MC Naninha e Christopher Luz. funk bem bafo, com muitas refs e putaria. ouça aqui.
os Jovens Ateus lançam seu disco de estreia, “Vol. 1”, em abril, via Balaclava Records, e soltaram mais um single intitulado “Mágoas”. a banda surgida no interior do Paraná explora um som bem anos 80, clima pós-punk, “hola soy darks”, porém no meio da melancolia destes ritmos eles inserem uma pitada de humor nada óbvia. banda para se ficar de olho. veja aqui o clipe finíssimo que eles lançaram.
fervos & bafos
hoje chega aos cinemas brasileiros “Maré Alta”, de Marco Calvani. o filme é lindo e é uma super mudança na carreira do ator Marco Pigossi. Vale conferir o filme na primeira semana, isso ajuda muito. leia minha resenha no Scream & Yell.
o Morrostock apresentou seu line-up para 2025 com o tema "Reconstruir RS", com diferentes artistas de estilos, gerações e trajetórias que marcam a música independente do RS. o festival rola em Santa Maria/RS, dos dias 17 a 21 de abril. ingressos aqui. em 2017 tive uma experiência incrível no Morrostock e contei como foi lá no Scream & Yell. dessa edição, dentre as muitas coisas do line-up do Morrostock, como o sempre maravilhoso Vitor Ramil, eu ainda destaco a Clarissa Ferreira, que lançou o excelente disco “LaVaca” no ano passado e escrevi lá no Scream & Yell. além disso, destaco o Supervão, que lançou ano passado o excelente disco "Amores e Vícios da Geração Nostalgia (AVGN)", vimos eles no Circuito - Nova Música, Novos Caminhos e o show foi delicioso! ouçam aqui.
videolocadora
nessa sessão indico filmes de qualquer época que eu acho interessante e que valem o play
“Califórnia”, Marina Person
achei curioso pensar que esse filme já está completando 10 anos de lançamento - o tempo realmente passando. filme de estreia da Marina Person na ficção - antes ela tinha dirigido o excelente doc “Person”, sobre seu pai Luís Sérgio Person. “Califórnia” conta a história de Estela (Aren Gallo), uma adolescente do início dos anos 80, que vive os conflitos típicos da idade e que sonha em visitar seu tio Carlos (Caio Blat), jornalista musical que vive na Califórnia, nos Estados Unidos. no entanto, seus planos vão por água abaixo quando ela descobre que é ele quem está voltando para o Brasil com problemas pessoais. um belo coming of age que vibra a energia dos anos 80, desde as cores e roupas até seus sons e clipes - Marina Person foi uma das mais importantes VJs da MTV Brasil, old que ela traria esse toque para seu filme. enfim, acho esse aqui uma delicinha, clima de sessão da tarde, filme pra gente rir, se emocionar e sair com um quentinho no coração.
as cantoras lá de casa
sessão onde indico um disco de alguma cantora dessas de outros tempos que vivem no repeat aqui em casa
“Evinha” - Evinha
a voz de Evinha virou trend no TikTok depois que duas de suas faixas foram sampleadas em “Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer“, quinto e mais recente álbum do rapper BK’. de todo modo, ela já vem há algum tempo sendo revisitada por djs e músicos que andam sampleando e remixando suas canções. eu fico feliz demais quando minhas piticas têm o reconhecimento que merecem em vida e estou amando ver a Evinha aproveitando desse hype. nesse momento muita gente tem ido até o disco “Cartão Postal”, de 1971, que tem a faixa “Esperar pra ver”, que tem os versos virais “No domingo eu li sua carta imensa contando tudo”, mas aqui resolvi indicar outro disco que também vale ser descoberto. “Evinha”, de 1970, é um deleite! a capa já é um bafo inicial - quantas cantoras hoje em dia sonham em fazer uma capa dessas? sim Doechii e SPELLLING, a Evinha fez antes! o disco tem aquele clima bem virada dos 60s pros 70s e a produção deixa isso bem clara, pois temos coros de vozes, tem alguns arranjos bem orquestrados e tem seus momentos roqueiros. “Something”, por exemplo, é uma delicinha roqueira, com guitarras marcadíssimas. “Cavaleiro de papel crepom” (dos mestres Antonio Carlos e Jocafi) tem clima pop e conversa com algumas coisas da mesma época dos Mutantes, tipo o deboche de “Hey Boy”. “Abrace Paul McCartney por mim” é uma delicinha com clima iê-iê-iê, com referências diretas a muitas coisas pop daquele tempo, da calça Lee aos versos crocantes “Meu amor, meu ice cream / Abrace Paul McCartney por mim” - o Caetano tropicalista sonha em ter escrito essa, mas o crédito é da mamãe Joyce (que hoje assina Joyce Moreno), uma das primeiras compositoras mulheres da MPB e um dos mais importantes nomes da nossa música nos últimos 60 anos. enfim, ainda tem “Setembro”, “Tema de Eva”, “Agora”, muitas pedradas. “Evinha”, 1970, é coisa fina!
extra: vale demais ler esse papo do Yuri da BS com a Evinha lá na Billboard.
reclames
cinema: “O Melhor Amigo”, de Allan Deberton, é uma encantadora comédia musical gay sobre encontros e desencontros amorosos no litoral cearense. leia minha resenha no Scream & Yell.
de Anna Júlia à Renata: nesta semana no VFSM nós relembramos os nomes que foram arruinados depois que viraram canções - mas também tem os nomes que ganharam belas canções, ok? ouça aqui.
teatro: “Por um pingo” cria uma narrativa ácida sobre como viver em cidades soterradas pela especulação imobiliária. leia no Scream & Yell.
até a próxima,
Renan Guerra
galero gosta muito de cobrar ajuda ne. COMO SE TU FOSSE OBRIGADO