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existe uma reação do público que diversas vezes reage aos conteúdos jornalísticos/artísticos/culturais/entre outros por uma perspectiva extremamente pessoal, que sempre acha que todo conteúdo é e deve ser essencialmente feito e destinado para ele. essa reação ganhou mais força na internet e - por uma percepção minha, sem nenhum respaldo, rs - eu sinto que é algo que ganhou mais força ainda após a pandemia. as pessoas veem um conteúdo e sua reação direta ao não se verem contempladas é algo como: “mas e eu?”. o exemplo mais claro e eficaz disso é encontrado nos comentários de qualquer vídeo de receita, é só alguém fazer um macarrão alho e óleo pra aparecem comentários tipo “ai mas eu não como nem alho nem óleo, posso substituir pelo que?”, POR NADA, SUA PUTA, ESSA RECEITA É ALHO, ÓLEO E ÓDIO!
e esse movimento de achar que todo conteúdo deve essencialmente ser direcionado à você e as suas necessidades cria um público que parece birrento, que não sabe lidar com temas, questões e experiências que não dialoguem com suas vivências. e isso é visto desde a relação que as pessoas tem com receitas com ingredientes que não as agradem até suas reações perante filmes com sexo e violência ou com obras de arte que tensionam temas delicados. aqui a gente até poderia se aprofundar no quanto as pessoas cobram uma certa moralidade das obras de arte, mas isso é tema mais profundo, nem cabe aqui hoje. por agora, só quero falar dessa birra que as pessoas assumiram como postura na internet.
e pra isso uso como exemplo a reação que as pessoas têm nas caixas de comentários de festivais de música. trabalho hoje em dia na comunicação de um festival e vira e mexe passamos por essas experiências malucas em que as pessoas parecem esquecer que é uma outra pessoa que as lê do outro lado da tela. e nem tô falando aqui de festivais grandiosos, como Rock in Rio ou Lollapalooza, mas convido vocês a um exercício de explorarem as recentes caixas de comentários de festivais como Coala ou Coquetel Molotov, por exemplo. as pessoas mais modernetes e pra frentex da vida estão lá destilando rancor.
eu fiquei pensando nisso especialmente depois de ler a caixa de comentários da Batekoo no dia que eles tiveram que cancelar o festival de 2024. qualquer pessoa que conhece a história da Batekoo sabe do cuidado que seus produtores têm em criar um festival com inúmeros diferenciais e inúmeras políticas de acesso para que o público possa aproveitar ao máximo essa experiência. esse ano, por falta de apoio, o festival teve que ser cancelado, em um movimento que obviamente aponta mudanças no mercado cultural e que é bastante melancólico de se observar. o festival Batekoo era movimento de ousadia e coragem e é triste que ele não se realize. mas ao abrir os comentários, o que se via? fulaninho dizendo “ai eu me planejei pra ir e agora? comprei passagem, vocês não podem fazer isso”, SIM BONEQUINHA, ELES REALMENTE CANCELARAM SÓ PRA ATRAPALHAR SEUS PLANOS, as pessoas realmente acham que não há ônus para os produtores? eles realmente acham que a galera fez isso como uma ação deliberada e não como um movimento realmente de impossibilidade financeira e logística? sabe?? é difícil pensar um segundo no contexto geral. é óbvio que é uma bosta pra todo mundo que se planejou, mas o festival também planejava fazer uma festa linda e não deu. sério, pessoal xingando a Batekoo me deu raiva REAL. pessoal acha que o mundo gira ao seu redor…
esse texto nem tem ideia maior para essa questão do ego das pessoas nas redes, só queria mesmo compartilhar minha raiva, pois no final das contas acho que teremos que cada dia mais lidar com as bonequinhas que acham que tudo deve agradar e servir à elas e tão somente à elas, sem considerar as demandas e complexidades de outros. ando meio exausto…
links
o primeiro link de hoje conversa com o texto de abertura, pois é uma importante reflexão da Leila Evelyn lá no Casablack sobre todo esse cenário de festivais cancelados, adiados e tudo mais. leia aqui.
pra sair da reflexão e fritar: tinha visto muita gente falando desse Boiler Room da Rebecca Black e quando dei play fui realmente arrebatado: um bafo total! perfeito para dar o play no final de semana.
Dora Morelenbaum fala sobre seu disco “Pique” em papo bom com a Gabriela Amorim no Monkeybuzz. leia aqui.
MixBrasil
um dos momentos que mais amo no meu ano é o Festival MixBrasil. o festival era algo que eu sempre acompanhei a distância desde à adolescência e que nos últimos anos se tornou parte do meu calendário. quando mudei, cheguei a frequentar um pouco os eventos e aí, logo depois, com a chegada da pandemia entrei num ciclo de cobrir o evento, escrevendo sobre filmes, fazendo entrevistas e participando de forma mais ativa de todo esse movimento.
o Mix pra mim é o momento em que vejo filmes bafo e que confiro lançamentos em primeira mão, mas mais que isso, é um espaço de congregação, em que me reafirmo como gay e como parte da comunidade LGBTQIA+. sempre choro nos eventos do Mix e é um choro de felicidade, aquele choro de quem era adolescente e pensava que sua vida não tinha saída, de que sua existência seria nula e que hoje se entende como pessoa que vive de forma completa em todas as nuances e todas as dores e delícias de ser 100% quem se é.
é no Mix que reencontro amigos, me aproximo de pessoas que eram referências pra mim e que, além de tudo, ainda posso chegar pertinho de ídolos gigantes pra mim. converso com cineastas, encontro atores e artistas, descubro novos talentos e me divirto ao lado de pessoas LGBTQIA+ de todas as idades. o Mix é nosso momento de celebração de nossa história, daqueles que vieram antes, de rememoração e de afirmação, e, além disso, é o nosso espaço de criar novos futuros, de contar novas histórias.
enfim, leiam meus textos sobre o MixBrasil lá no Scream & Yell e me encontrem pelas poltronas do CineSesc, pelos corredores do MIS ou pelas outras salas do festival. como diz o mote deste ano: é na luz que a gente se encontra!
(mais uma vez nesta newsletter eu dizendo basicamente “putz, bom demais ser gay!!”)
se liguem na programação aqui.
lançamentos
confesso que eu desconhecia os gaúchos da Metanóia, por agora soube que eles têm um disco de 2023 e outros singles e coisa e tal, mas os conheci só agora com o single “Suor”, lançado pelo selo Bolo de Rolo - o braço indie do indie do Selo Rockambole, de olho nas novidades mais quentes nos diferentes cantos do país. “Suor” tem uma produção refinada, conseguindo dialogar com refs do indie e tudo mais, mas ainda assim namorando com o pop mais sofisticado. sério mesmo, deem o play e se encantem como eu me encantei.
Iara Rennó lança o single "Iroko (Axé que vem do Pé)" com participação de Juçara Marçal e produção musical de Iara ao lado de Kiko Dinucci. o single vem na sequência de seus álbuns-irmãos “Oríkì” e “Orí Okàn”, lançados respectivamente em 2022 e 2023, e aprofunda o universo construído pela artista na temática de celebração aos orixás. ouça aqui.
mamãe Julia Holter lançou “The Laugh Is in the Eyes”, single que veio dos demos de “Something in the Room She Moves”. a faixa é uma canção cheia de camadas, nuances e é um complemento belíssima como disco. ouça aqui. Holter é uma das minhas paixões e seu disco “Something in the Room She Moves” é um dos meus discos do ano, tanto que mergulhei nele em texto lá no Scream & Yell, leia aqui.
kween FKA twigs apresentou mais um vislumbre do seu “Eusexua” e hoje saiu “Drums of Death”, feat Koreless, faixa que já aparecia no clipe de “Eusexua” e que agora podemos ouvir na íntegra. ouça aqui.
nova do Mu540 chamada “DZ7” feat Garimpos. beat luxo, tudo de bom. ouça aqui.
A cantora e compositora amazonense Karen Francis lança “Cinco Dias”, em parceria com o artista paulista MARTTE. a faixa ficou uma delicinha e ainda ganhou um clipe lindo gravado na ilha do Combú, no Pará. veja aqui.
“No More Water: The Gospel Of James Baldwin”, de Meshell Ndegeocello, é um dos discos mais importantes do ano e uma das minhas paixões. dentro do disco, “Love” é, com certeza, a faixa que mais se repetiu aqui em casa e, considerando toda a estética e sonoridade do disco, me surpreendeu que ela lançou um remix dessa faixa. me surpreendeu e foi inesperado e tudo mais, mas mesmo assim ao dar play eu entendi que fez todo sentido, por isso ouçam “Love - Tedd Patterson Kinship Remix”. Pra lembrar, Meshell vem em 2025 pro Brasil no C6 Fest e é um dos shows que eu estou mais ansioso!
Karina Buhr lançou “Poeira da Luz”, single que abre caminhos para seu quinto disco solo. achei a faixa bonita e tal e acho sempre fundamental reverberar Karina. sinto que nos últimos anos a galera parece meio ter se esquecido o quanto ela é foda, mas ela é muito foda!!! ouçam “Poeira da Luz” e revisitem a discografia da diva, pois tem pérolas e pedradas potentes demais!
disco lançado no início do mês, “Na Cocó”, do baiano XAUIM, traz um olhar pessoal sobre Salvador, as perspectivas construídas sobre a cidade e sobre a baianidade, tudo circulando por ritmos como samba reggae, dance hall, ijexá e kuduro - 100% ritmos que não são meu mundo rítmico, porém o disco de XAUIM me encantou pelo frescor e por suas composições que vão da discussão social ao olhar de cronista da cidade. ouça aqui.
MHYSA lançou um ep chamado “UES”. a diva sempre me intriga, é um R&B meio torto, alguma coisa esquisita, mas muito fascinante. ouça aqui.
o nome Siamese pode ser conhecido de alguns do disco “After”, de Pabllo Vittar, pois a artista aparece na faixa de abertura, ao lado de Gloria Groove, no remix de Clementaum para “AMEIANOITE”. cantora, compositora natural do Paraná, Siamese cria canções que vão do pop ao rock, passando por afrobeat, disco e bossa nova, sempre a partir de sua perspectiva travesti. ouça seu disco autointitulado aqui.
fervos & bafos
programa gratuito: domingo tem show do Grupo Rumo às 14h, na praça Dom José Gaspar, ali na Biblioteca Mario de Andrade. como SP só faz chover, a previsão é chuva - tal qual a canção "Ladeira da Memória" -, então já separa a capa de chuva, pois é show de celebração dos 50 anos da banda! tem outros bafos baforosos no final de semana da Biblioteca, olhem lá no Instagram deles.
AVISA! a Victoria de Angelis (do Måneskin) tá chegando ao Brasil para um DJ Set na Zig Studio nesta sexta, hoje, dia 15, e convocou uma gang da pesada para essa noite: CyberKills e Clementaum, vai ser babado! ingressos aqui. estarei por lá (não garanto até muito tarde, mas estarei no fervo de abrir a pista
o mineiro Davi Fonseca lança seu disco “Viseira” em SP no dia 28 de novembro no Sesc Vila Mariana, em show com participação de Luiza Brina. os ingressos começam a ser vendidos no dia 19, mas já salva lembrete aí. show do Davi é muito foda e o disco dele é uma lindeza, uma das minhas paixões de 2024; fiz um faixa a faixa com ele lá no Scream & Yell.
saiu o line-up do Festival Novas Frequências que rola no RJ, de 07 a 15 de Dezembro. o evento rola em diferentes espaços culturais da cidade, em uma programação que vai de 0800 à preços populares. + infos aqui.
saiu também o line-up do Gop Tun Festival de 2025 e tá muito chic com nomes como Olof Dreijer, Omar Souleyman, Ben UFO, Eli Iwasa, Carlos do Complexo e muito mais. ingressos aqui.
reclames
teatro: íntimo e sincero, “Via Crucis”, de D’Avilla, coloca vulnerabilidades amorosas no centro de uma performance teatral. leia minha resenha no Scream & Yell.
cinema: “Megalópolis”, de Francis Ford Coppola, confabula possibilidades de futuro ao mesmo tempo em que questiona e debocha do presente. leia minha resenha no Scream & Yell.
essa semana no Podcast VFSM eu e o Nik Silva conversamos com a banda Varanda sobre o primeiro álbum de estúdio do grupo mineiro, "Beirada". ouça aqui.
já no episódio principal do VFSM nesta semana, mergulhamos em algumas das principais categorias do Grammy. mais um episódio para vocês me ouvirem sendo ranzinza, rs. ouça aqui.
três perguntas: Matu Miranda apresenta seu disco “Matutando”, obra que casa a MPB e o jazz de maneira interessante. leia no Scream & Yell.
até a próxima,
Renan Guerra