pensar a fotografia como registro histórico é algo muito fundamental, mas geralmente quando pensamos nisso pensamos em registros muito grandiosos e imponentes, porém num outro âmbito me interessa demais a perspectiva de fotografia como registro do comum, do banal, do cotidiano. são essas fotos que registram uma perspectiva muito única do tempo e das pessoas de uma época.
é nesse sentido que a exposição “Stefania Bril: desobediência pelo afeto’' me encantou. em cartaz no IMS Paulista, essa é a primeira exposição dedicada ao trabalho da Stefania em 30 anos; fotógrafa de origem polonesa, ela chegou no Brasil nos anos 1950, porém seus registros fotográficas vão de 1969 até 1980. suas fotos têm retratos, capturas de sorrisos, abraços e afetos, bem como um olhar bem humorado para a cidade, com imagens da urbanidade, dos trabalhadores em situações comuns e das placas, mensagens e para-choques em movimento pela cidade.

eu fiquei completamente apaixonado pelo trabalho dela e achei as fotos lindas e delicadas e cheias de humanidade, mas ao mesmo tempo saí da exposição com um incômodo, pois Stefania repete algo muito comum de fotógrafos brancos, que é fotografar pessoas negras, crianças e trabalhadores comuns sem necessariamente anotar o nome dessas pessoas, no caso de Stefania ela até anota alguns nomes, mas sem sobrenomes, acho isso muito esquisito, meio que apaga um pouco daquelas pessoas - o que são registros lindos de uma história e experiência, mas ao mesmo tempo também repetem círculos de exploração dessas mesmas imagens. enfim, é uma dicotomia esquisita. mesmo assim, recomendo muito a visita à exposição, pois tem um material de acervo riquíssimo. a exposição é gratuita e segue em cartaz até 26 de janeiro de 2025.

o Leblon de Manoel Carlos
estreou no youtube uma série documental dirigida por Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos, que apresenta um pouco da relação do autor com o bairro. saiu essa semana o primeiro episódio, confesso que achei curto demais, queria mais, rs, mas adorei a logística de apresentar o universo do Maneco pelos cenários reais que ele frequentava e que acabavam indo parar em suas novelas. enfim, vamos aguardar os próximos eps. assista aqui.
lançamentos
acho que vocês já devem ter percebido, mas às vezes muitos lançamentos de uma sexta eu só comento na outra. a pressa é inimiga de tudo. sem necessidade de ouvir tudo correndo na sexta. o que me mandam antes, eu ouço, o que só ouço no dia de lançamento deixo pra indicar aqui na outra semana, com calma, pois o tempo é senhor e assim seguimos.
Floating Points lançou o disco mais babilônico de música eletrônico de 2024. se o disco anterior dele era uma experiência transcendental quase meditativa, agora ele nos leva para transcender na pista de dança. “Cascade” é completamente de cair o queixo, pois Sam Shepherd - o homem por trás do projeto - nos leva numa viagem em que ele revisita e recicla sons e beats que parecem já conhecidos, mas faz isso com um frescor que resulta em algo surpreendente. se você é mundinho música eletrônica, esse é um play obrigatório.
ainda no universo clubber, Jamie xx tem lançado mil singles antes do disco completo. eu poderia reclamar, poderia, mas essa semana ele simplesmente lançou uma faixa que reúne a minha família xx: ele, Romy e Oliver Sim. “Waited All Night” é a reunion do The xx, mas ainda assim é uma faixa 100% Jamie xx. achei 10/10. ouça aqui. (depois que eu escrevi esse texto, saiu o disco completo, mas o tempo é outro e vou ouvir no final de semana e comento sobre na próxima sexta)
sexta passada nem falei disso, mas saiu o primeiro single do novo disco de FKA twigs, “Eusexua”. vejam o clipe, ouçam a música e se apaixonem como eu. vi o corte de uma entrevista da twigs com a Margeaux Labat - aliás, pra quem consome conteúdos em inglês, a Marg é um follow necessário, a minha criadora preferida de música atualmente, amo a diva - e amei que a twigs descobriu um espaço na pista de dança que fazia sentido pra ela e isso foi muito fundamental pra esse disco. amei as refs que ela já traz nesse single - catei coisa de Madonna, Björk, Janet - e estou bem curioso pelo que vem por aí.
batata boy é um artista alagoano que ficou conhecido na cena indie por seu trabalho ao lado de Bruno Berle. agora ele tem se lançado em um trabalho autoral e os primeiros singles que saíram são bem bafo. do que saiu, tem um com o próprio Berle e a snowfuks que é bafo e um com Ana Frango Elétrico e yung vegan que é 10/10. ouçam aqui. (sei que esse parágrafo tem muitos nomes que parece que eu acabei de inventar né, mas não, deem uma chance para os jovens, rs)
choque de monstro da putaria trans: Katy da Voz e as abusadas se uniu as Irmãs de Pau, com produção do anjo FKOFF1963, para o single “SENSAÇÃO DE….”. letra putaria, som destroi noia, ouça longe das crianças.
para as intensas e esquisitas, o nosso saxofonista Colin Stetson retornou com o disco o disco “The love it took to leave you”. além de ser nosso saxofonista mais braçudo do indie, ele também faz música obscura e que nos leva por caminhos estranhos, mas extremamente interessantes. o divo trabalha um monte, tem mil trilhas sonoras e outros projetos, mas é sempre interessante ver ele em seu habitat solo explorando os instrumentos de sopro de um jeito completamente único e envolvente. ouça aqui.
a kween Nilüfer Yanya lançou mais um discão. “My Method Actor” é um trabalho confessional e interessante, que leva o indie rock dela para caminhos cada vez mais pessoais. com uma reverência direta as cantoras-compositoras dos anos 90, mas com um olhar cada vez mais moderno, a artista inglesa nos proporciona uma viagem muito interessante por seu universo lírico. um disco para as intensas.
esse aqui nem ouvi inteiro ainda e já confio de olhos fechados pra indicar. saiu uma nova coletânea do Galaxie 500 chamada “Uncollected Noise New York ‘88-’90”, com faixas nunca lançadas, lados b e outras raridades. Galaxie 500 é tipo banda que poucos ouviram enquanto eles estavam em atividade, de 1987 até 1991, porém se tornou ref fundamental nos anos 90, adquirindo status cult maior a cada década - e com razão. para quem gosta de dream pop, slowcore, shoegaze, todas essas tags meio early anos 90, Galaxie 500 é basilar, e pelo que já ouvi dessa coletânea, achei luxo. essa é para as garotas que gostam de um barulho tristinho.
o cantor, compositor e instrumentista Juliano Guerra se uniu a Vitor Ramil no single “Latinoamerica Drama”, uma interessante narrativa sobre nossas semelhanças nos diferentes locais desse universo chamado América Latina.O single é o primeiro de Juliano desde o premiado álbum “NEURA”, que rendeu ao músico o Prêmio Açorianos de Música como melhor compositor de MPB. ouça aqui.
tava ouvindo o novo disco do galês Bright Light Bright Light, chamado "Enjoy Youth", e achei bem gostosinho. é aquele clima bem electropop, com canções bem redondinhas, que relembram os anos 80 e 90, com ecos de Scissor Sisters e Kylie Minogue. ouça aqui.
também andei ouvindo "Our Shame", disco de estreia do inglês Tsatsamis e, nossa, muito interessante, essa coisa meio synthpop dark, meio pista de dança melancólica e esfumaçada, gostei. ouça aqui.
fervos & bafos
em SP: neste sábado tem festa Alicate com o tema Night of 100 Cattos no Presidenta Bar. neste sábado a festa é pra celebrar o aniversário de Filipe Catto, com sets de Ali Prando, Catto, Vicente Negrão e +++. a partir das 23h, ingressos na porta.
em SP, dia 26 de setembro, tem sessão gratuita de "O bandido da luz vermelha", de Rogério Sganzerla, lá na Estação da Luz, em projeto coproduzido pelo Bar Soberano, espaço na Rua do Triunfo que já recomendei por aqui. a sessão que é gratuita - só chegar - vai contar com a presença da kween Helena Ignez! acompanhem o Soberano no Instagram pra mais infos.
fervo de estreia: a festa Caruréu acontece no próximo dia 27, no Âmago, com direito a welcome Caruru pros 50 primeiros que entrarem. a esta idealizada pelo DJ Mirands conta basicamente com sets de Aya Ibeji, EVEHIVE, Kontronatura e do anfitrião Mirands. ingressos aqui.
em SP: dia 27 tem exibição gratuita de “Veraneio: Uma Antologia Negra”, que celebra a história de três gerações da família Pereira: Seu Osvaldo Pereira, pioneiro da discotecagem no Brasil, junto do filho Dinho Pereira e neto Jean Pereira. mais infos aqui.
dia 27 a Zig Studio e a festa BUERO se unem pra celebrar o álbum póstumo da SOPHIE. além do disco completo, teremos sets de Spencer Q, Fuso, Rafa Maia, CyberKills, e mais… ingressos aqui.
alô crianças clubbers! dia 12 de outubro a Novo Affair celebra um anuxo de vida e traz sets luxos & bafos, como Badsista b2b Bassan, Mirands b2b Rafa Balera and Paulete Lindacelva b2b Kabulom. ingressos aqui.
videolocadora
nessa sessão indico filmes de qualquer época que eu acho interessante e que valem o play
“Romy e Michele”, David Mirkin
eu amo que essa sessão vai do cult ao mainstream em cada semana. e hoje vamos de uma comédia que é 100% a cara dos anos 90. esse é um filme que o tumblr amava e eu só fui ver recentemente e eu entendi tudo. no filme, as kweens Romy e Michele eram meio esquisitinhas na adolescência, mas sonhavam em ser pops. a vida não deu muito certo e elas seguem rumos meio esquisitos, porém na hora da reunião de 10 anos de sua formatura elas decidem inventar uma mentira para criar um universo de realizações que não existe e obviamente isso sai do controle. mas o interessante do filme é que ao longo dele vamos percebendo que, apesar de não terem realizado todos os seus sonhos, Romy e Michele ainda seguem verdadeiras ao universo em que elas acreditam, ainda mais quando elas se confrontam com o envelhecimento ou o acomodamento dos antigos colegas. extremamente camp e exagerado, o filme se sustenta na atuação on point de Lisa Kudrow e Mira Sorvino. se você é do tipo que criou ojeriza de “Friends” por causa do mundinho Buzzfeed, eu até entendo e tal, mas é importante frisar que Lisa é uma das grandes humoristas dos últimos 30 anos - vejam “The Comeback”, da HBO, e entendam a delícia que é o timing de comédia dela. Mira Sorvino, na época, era uma estrela, namorava o Tarantino - tanto que o filme meio que existe no mesmo multiverso de “Pulp Fiction” - e ela era uma espécie de atriz em ascensão, chegou a ganhar o Oscar de atriz coadjuvante pelo delicioso “Poderosa Afrodite”, de Woody Allen, mas aquela coisa Hollywood, mil homens, mil influências, de algum modo a carreira dela se perdeu… enfim, no filme as duas arrasam e ainda tem a Janeane Garofalo e uma ponta absurda do Allan Cumming. filme com ares de Sessão da Tarde que se tornou um clássico cult com razão. divirtam-se!
reclames
chegou essa semana aos cinemas brasileiro “A Substância”, filme de Coralie Fargeat, que coloca Demi Moore em uma jornada de terror em busca da juventude. escrevi sobre o filme lá no Scream & Yell, leia aqui.
livro “Bate-Estaca”, de Camilo Rocha, cria um panorama rico sobre o desenvolvimento da cena eletrônica em SP. texto completo no Scream & Yell.
nossos artistas estão com o tesão de 7 Anittas? essa semana tiramos nossas calcinhas no podcast VFSM para falar sobre a relação entre música brasileira e sexo. ouça aqui.
o livro “Vila Mathusa”, de zênite astra, entrecruza histórias de pessoas trans no coração da capital de São Paulo em uma delicada narrativa de contos. leia minha resenha no Scream & Yell.
a Editora Seguinte anunciou para 2025 "O Silêncio da Andorinha", de Elena Malíssova e Katerina Silvánova, sequência de "Verão de Lenço Vermelho", excelente romance gay que sofreu censura na Rússia. escrevi sobre o primeiro livro no Scream & Yell.
até a próxima,
Renan Guerra
edição fantástica, renan! sou nova assinante por aqui e já tô ansiosa pra acompanhar toda sexta! sua curadoria é impecável <3
Ando com vontade de fazer fotos assim nas ruas, com pessoas, mas tenho receio das pessoas ficarem intimidadas. Pra mim são os melhores registros!