#013
queria ter algo interessante e novo pra indicar aqui, mas o fato é que às vezes a gente se repete e nem tudo é novo. tenho dicuxas e tudo mais essa semana, saíram boas cantigas, porém a dica de impacto da semana parece algo mais difícil, por isso voltaremos ao passado.
Eu sou apenas um plágio
eu amo a sensação de terminar um filme e sentir “ok, esse sou eu, essa é minha nova personalidade. essa pessoa me define inteiramente”, porém isso acontece raras vezes. e geralmente isso acontece com filmes de mulheres jovens, eles batem forte aqui, então relembro dois casos específicos.
“Frances Ha” me atingiu de uma forma violenta. escrito por Greta Gerwig e dirigido por Noah Baumbach, esse filme é um resumo da minha vida nos anos 10. as tentativas de Frances de construir sua identidade, a sua forma de se relacionar, a forma como ela se destroi financeira e profissionalmente, tudo me atingiu de forma violenta. pra além disso, temos a cena que ela explica uma relação de amizade/irmandade de uma forma única. essa cena representa grande parte das minhas principais amizades. enfim, eu posso estar em SP ou no interior do país, a vida de Frances é a minha vida e eu sou ela, com todas as falhas possíveis.
durante uns bons anos eu fui “Frances Ha” e ela era eu, até que eu fui ver “A pior pessoa do mundo”, de Joachim Trier, e entendi que eu tinha amadurecido e eu era uma nova pessoa. a Julie sou eu. ok, tem um gap de classe, eu sou bem mais pobre que ela. mas eu ainda sou ela. as dúvidas, a solidão, o medo, o caos financeiro e sentimental, tudo sou eu. como pode uma mulher branca nórdica representar de forma perfeita uma gayzinha latina em SP? não sei, só sei que é. nossas dúvidas são as mesmas, as formas abruptas e irresponsáveis com que ela lida com a vida me representam demais. eu achava que chegaria aos 30 com coisas mais sólidas, mas cheguei cada vez mais igual a ela, com incertezas e caos.
e que filme esteticamente lindo é “A pior pessoa do mundo”. mais do que viver na Nova York hipster de “Frances Ha”, eu quero demais viver no mundo cool dinamarques de Julie, ser chique e leve como eles.
enfim, amo demais quando filmes completamente distintos representam tudo que sou.
Lançamentos
Duda Beat lançou “Tara e Tal” e mais uma vez entregou tudo. amo como ela pode fazer o caos que for no entremeio dos discos, vivendo como subcelebridade e fazendo feats duvidosos, mas ela sempre volta com um disco luxo. o novo flerta com a música eletrônica, dialoga com o drum’n’bass e entrega uma obra deliciosa entre a pista de dança e o drama da salinha de redução de danos. a era clubber de nossa Duda!
Pabllo Vittar inventou essa patacoada de faixas trancadas e faixas a serem liberadas, mas o fato é: nem isso ofuscou o disco delicioso que ela lançou. “Batidão Tropical 2” é luxo demais, com versões divinas de forró e brega, com participações chiques de nomes como Gaby Amarantos, Will Love e Maderito. já coloca a cervejinha gelar e dá o play.
saiu na semana passada “No reino dos afetos 2”, de Bruno Berle, a sequência de seu disco “No reino dos afetos”, de 2022, e está uma delicinha. a poética de Bruno é sempre muito rica e interessante e adorei as experimentações que ele faz com a voz e os beats.
Ná Ozzetti e Luiz Tatit celebram sua amizade e parceria no disco “De Lua”, um disco que passeia pelos múltiplos encontros da dupla, indo da melancolia ao pop. vale o play.
eu sou embaixadora do comeback do drum’n’bass, porém a maior trabalhadora disso é a Nia Archives e ela lançou o divônico “Silence Is Loud”, play essencial desse final de semana, pra dar aquele gás.
saiu o remix de “Oral”, parceria de Björk e Rosalía, feito pelo Olof Dreijer (The Knife). a faixa tem claras referências à música brasileira, como o samba e o funk, impacto da temporada de Olof no Rio de Janeiro neste início de 2024.
saiu hoje “Amor Delírio”, segundo disco de Papisa e está bem bonito, segue essa linha meio pop chique, ela tem uma forma bem interessante de enxergar e construir a canção, vale o play.
a Ana Clara Matta me indicou "Super Real Me", do ILLIT, e ficou no repeat aqui. adorei como elas passeiam por diferentes universos, sendo o pop apenas o ponto de partida pra diálogos com vários gêneros. mergulhe no kpop sem preconceitos.
saiu "Beat Me", novo single de Zopelar, que estará em seu próximo disco "Ritmo Freak", que sai em maio pelo selo dinamarquês Tartelet Records. achei podre de chic, vale muito o play.
Fervos e bafos
nesta sexta (19h) e sábado (17h30|) tem “Manifesto Transpofágico”, de Renata Carvalho, de forma gratuita no Sesc Itaquera. mais infos aqui.
nesse final de semana tem Kevin no Zig Studio, na Barra Funda, com sets de Xoxottini, Guinness, Badvi, Fugaz, entre outros. ingressos aqui.
sábado também tem Dando com Paulete Lindacelva e a estreia de Zopelar na pista do Teatro Mars. ingressos aqui.
nas segundas de abril está rolando Rodrigo Campos, Romulo Froés e Thiago França no Centro da Terra, em Perdizes. infos e ingressos aqui.
dia 21 de abril tem Juçara Marçal e Alzira E + Corte na Casa Natura. quem gosta de Juçara e não está ligado no trabalho da Alzira está perdendo, é babadíssimo, vale ouvir e conferir.
em BH: dia 26 de abril rola Black Alien na Autêntica. ingressos aqui.
Videolocadora
nessa sessão indico filmes de qualquer época que eu acho interessante e que valem o play
“Flores de Aço”, de Herbert Ross
falamos bastante de Dolly Parton nas últimas semanas e lembrei de um filme que eu adoro dela: “Flores de Aço” (“Steel Magnolias”, no original). o filme acompanha um grupo de divas que usa quilos de laquê e troca confidências, com um elenco que tem Julia Roberts, Sally Field, Daryl Hannah e Shirley MacLaine. o filme grita anos 80 e é bem retrato de uma época, com questões femininas que nem sempre fazem sentido no mundo de 2024, porém é um filme tão delicioso de se assistir. é maravilhoso ficar vendo as conversas, as confidências e as trocas entre elas, numa narrativa que entende a cumplicidade feminina como algo singular e rico, apresentando para o espectador a amizade entre mulheres com todas as suas nuances. e as atuações são impecáveis: Julia Roberts jovenzinha já mostra a sua magnitude e como ela cativa o público e a nossa diva Dolly Parton mostra o quanto é multifacetada e interessante. enfim, filme bem sessão da tarde, pra se ver no sofá enrolado no edredom e com um baldão de pipoca doce.
Reclames
simples, delicado e cativante, o filme “20.000 Espécies de Abelhas” acompanha a jornada de descoberta de uma criança trans. leia no Scream & Yell.
podcast Vamos Falar Sobre Música: os porões do pop e os artistas por trás de grandes hits
até a próxima,
Renan Guerra