#011
não sei se vocês repararam, mas a última edição nem abertura teve. nesse mês de março tenho seguido o fluxo, sem refletir muito, tem sido muito e muito trabalho (ainda bem) e muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. tem sido um mês bom de trabalho, criação, curso, evento, freelas e tal, mas ao mesmo tempo fico nessas reflexões sobre minha produção: não consegui escrever de coisas que me emocionaram e me movimentaram simplesmente pela falta de tempo. assim como fui em muitos eventos, gravei e tudo mais, mas não consegui editar, faltou forças e tal, aí fiquei pensando nessa necessidade de transformar tudo em conteúdo e o quanto isso atormenta a gente. trabalho criando conteúdo, mas mesmo assim ainda não sei monetizar isso, nem fazer disso um trabalho, pois compartilho o que me encanta e gosto de trocar o que me apaixona, anda difícil tentar ganhar um aqué no meio disso. mas vamos tentando.
Liana Padilha
estou dando meu curso sobre o cinema de Almodóvar. nessa quarta a aula era sobre as representações da morte no cinema dele. meia hora antes da aula vejo a notícia de que Liana Padilha morreu. a poeta, cantora, compositora, pintora, estilista e muito mais era uma referência muito fundamental pra mim. Liana estava como uma das figuras centrais na construção da minha São Paulo - mesmo sendo ela carioca.
conheci o NoPorn em algum momento dos anos 2000, em algum site. “Baile de Peruas” e “Xingu” mudaram meu mundo. fiz amigos em torno dessas referências, apresentei NoPorn pra outros amigos e criei uma rede de afetos nesse submundo das loucas & lazarentas que eram apaixonadas por Liana e pelo NoPorn. Consegui entrevistar Liana, escrevi sobre seus discos e diversas vezes pude gritar e cantar até perder a voz na grande de seus shows.
recentemente, Liana pediu meu whatsapp, e eu fiquei completamente passado. Nas últimas semanas ela tinha me mandando links, falado sobre o que ela estava produzindo e sobre os próximos lançamentos do NoPorn. ela não parava. uma força criativa e poética nesse mundo. sua morte me desestabilizou.
mas me encantei com a rede de pessoas que foram impactadas pelo seu trabalho. me emocionou a quantidade de ouvintes do nosso podcast que também eram apaixonados por ela - mais uma prova da rede de apaixonados ouvintes que formamos. enfim, essa morte mexeu demais comigo. chorei, ouvi NoPorn, ouvi Tintapreta, ouvi e li tudo que seus amigos compartilharam.
enfim, ouçam também NoPorn, ouçam os clássicos, mas também ouçam o disco “Boca”, ouçam o “Sim”, ouçam tudo, ouçam o Tintapreta, escutem canções como “Leo” ou “São Paulo Cospe Fogo”, busquem a história da Liana, conheçam o Sucumbe à Cólera, conheçam suas parcerias, conheçam seu mundo. a Zeze Araújo escreveu que Liana “viverá pra sempre em cada luz estrobo e luz negra” e eu não poderia concordar mais. dancem Liana Padilha. cantem Liana Padilha. brilhem Liana Padilha.
Bar Soberano
durante mais de dez anos estudei o cinema da Boca do Lixo de SP, mas nunca tinha ido à Boca. fui aos cinemas do centro, visitei alguns, outros recuei, mas tudo ali nos limites da República. semana passada enfim visitei a Rua do Triunfo, espaço icônico da Boca e ponto de encontro de uma série de artistas na década de 70. não vou recontar todo o simbolismo dessa rua e da Boca por aqui, porém vou recomendar que quem for de São Paulo pegue um uber e vá até a Rua do Triunfo, n 155, e visite o Bar Soberano.
o Soberano era o ponto de encontro de diretores, atores e equipe técnica da Boca, ali mil histórias foram feitas. e agora um casal apaixonado pelo cinema dessa era simplesmente reabriu o espaço com todo o respeito merecido. com um espaço inteiramente decorado com cartazes históricos e memorabília incomparável, o Soberano ainda está com uma exposição absurda sobre a história de Zé do Caixão. tem cartazes, livros, filmes e até vídeo-game dele; além de ilustrações autorais de Mojica e até um desenho dele feito por Tim Burton!!!
ps.: além da exposição e dos babados, o bar ainda tem uma cozinha bafo. no dia que fomos comemos o sanduíche de pastrami e 10/10. pastrami, picles e mostarda feitos na casa, uma delícia demais!
Lançamentos
mamãe Julia Holter voltou e é sempre tempo de parar e ouvir o que ela nos propõe. cada disco é um universo particular. “Something in the Room She Moves” é menos experimental que “Aviary” (2018) - um disco lindo, pra deixar claro. aqui ela volta praquela coisa art pop conceitual, em que experimenta os limites da canção, então é 100% recomendado para fãs de Kate Bush, Björk, Joanna Newsom e Laurie Anderson (isto é, eu). parece meio clichê cafona de crítico de música, mas ouçam com o tempo necessário esse disco, não forcem e nem se obriguem a ouvir com pressa, mas salvem e mergulhem nele em algum momento de tranquilidade ou fritação - e tentem ouvir num fone babado ou num som alto, pois é um universo cheio de camadas e texturas.
Céu está preparando seu novo disco novela e lançou seu primeiro single, a faixa “Gerando na Alta”, ao lado da cantora franco-senegalesa anaiis. e vamos de play.
as Irmãs de Pau voltaram barbarizantes com “Gambiarra Chic, Pt.1”. o flow delas está mais afiado, mais veloz e a produção muito bafo, com nomes como Cyberkills, Brunoso, Mu540 e Clementaum.
o duo Antiprisma lançou “Tente não esquecer”, em parceria com Bemti, e achei um single bonitão, melancólico e interessante. o duo vai lançar o disco novo ainda esse ano e vale ficar de olho. ouça o single aqui.
Paula Cavalciuk retornou com o single “Dança do Vento", depois de alguns anos de seu disco "Morte e Vida". ela preparo seu segundo álbum, “pangeia”, e eu estou bem curioso por esse lançamento. Paula é uma interessante cantora e uma grande compositora, fiquem atentos.
Malu Maria lançou o disco “NAVE PÁSSARO", em um passeio interessante entre a mpb, a música alternativa e outras possibilidades sonoras. gosto da forma como ela compõe e de como ela passeia pelas sonoridades de forma livre, sem tentar se encaixar em qualquer escola.
odeio esse conceito de ficar lançando singles atrás de singles e acho que isso nem sempre funciona pra todos os artistas. semana passada indiquei aqui o single de Ná Ozzetti e Luiz Tatit, aí essa semana já saiu outro single. os divos são 100% artistas que eu prefiro que lancem logo disco cheio e tal. mas enfim, “Et Cetera” é um single luxo, as composições de Tatit parece que sempre nascem pro canto-falado de Ná e esse é mais um encontro certeiro. curioso logo pelo álbum “De Lua”, que sairá pela Circus. aguardando.
Soft Cell tem relançando várias coisas nas plataformas, colocando eps clássicos com coisas extras e tal. é bem material para fãs e tudo mais, mas acho sempre bafo quando artistas colocam o catálogo completo, com extras chiques, nas plataformas, por isso recomendo. e lembro aqui que os divos estão pertinho de chegar no Brasil pela primeira vez, pra tocar no C6 Fest de maio, acho que será histórico.
Fervos & Bafos
hoje de noite, meia-noite, estaremos no zig duplex, eu, cleber facchi, isabela yu e nik silva, tocando alguns bafos das divas que já passaram pelo Lolla. além disso, claro, os maiores bafos do momento e muita história da pista de dança. old que dançaremos NoPorn para celebrar Liana. e tocaremos nossos outros hits das malucas. apareçam e aproveitem a nova luz do Zig Duplex. se surgirem, me deem oi e digam seus nomes, no meio do fervo, posso me perder, mas amo encontrar só as mais queridas.
Videolocadora
nessa sessão indico filmes de qualquer época que eu acho interessante e que valem o play
“Dente Canino”, de Yorgos Lanthimos
“Pobres Criaturas” chegou no Star+. já escrevi sobre o filme lá no Scream & Yell. assistam e não fiquem de fora das discussões moralistas sobre sexo no cinema hahahaha enfim, o cinema de Yorgos Lanthimos é bem divisivo, mas eu sou do time que embarco nas maluquices dele e nunca esqueço o impacto de, lá nos iniciais anos 2010, baixar em algum site maluco, o filme “Dente Canino” e simplesmente entrar - ao lado de meus amigos - em uma experiência maluca. três adolescentes criados fora das normas da sociedade comum começam a entender que tem algum babado errado e passam a se rebelar contra seus pais rigorosos em uma história absurda sobre convivência em sociedade, repressão e liberdade. acho que “Dente Canino” dialoga em diferentes momentos com “Pobres Criaturas”, e acho que é um filme que mostra a mente maluca de Yorgos mesmo com uma produção mais independente e financeiramente mais limitada do que os bafos hollywoodianos que ele tem feito agora. enfim, é um filme que recomendo mais pras malucas e pra quem está aberto a um cinema mais corrosivo - já quem é fã do Yorgos, esse aqui é obrigatório.
Reclames
quinta-feira estarei mediando um papo sobre literatura e música com ninguém mais ninguém menos que Zé Miguel Wisnik e Tiganá Santana. estou nervoso demais e preciso minha galera na plateia. então espero vocês no Sesc Belenzinho, na quinta-feira, dia 28, às 19h. será no teatro e é gratuito. sério, não me deixem num teatro vazio, estou nervoso!
essa semana no vfsm recebemos a minha quase prima Dora Guerra para conversar sobre os fandom e como muitos deles se tornaram máfias criminosas na web. arriscamos nossas integridades físicas nessa pauta, então espero que vocês gostem.
Até a próxima,
Renan Guerra